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Criar ambientes altamente criativos, treinar para excelência, atingir metas, capacitar talentos, desenvolver pró atividade, elaborar planos de desenvolvimento corporativo e de carreira com foco em resultados, analisar mercados e absorver os recursos necessários para gerar lucro são desafios importantes da atualidade.
O que ainda há que ser deliberado no mundo empresarial? Por que, com inúmeras técnicas e estudos a respeito, ainda existem organizações que não atingem seus propósitos, e mantêm um desenvolvimento abaixo de sua potencialidade, mesmo em cenários econômicos positivos?
Ocorre que o maior desafio corporativo da atualidade não está relacionado meramente à mensuração dos indicadores financeiros. Os novos líderes devem promover o desenvolvimento humano. Entramos, portanto, na era da Neuroliderança.
Tecnologias muito recentes, como a eye tracking, condutância da pele, eletroencefalograma, ressonância magnética funcional e face reading criaram a possibilidade de observar o cérebro, enquanto ele funciona normalmente num ser vivo e em condições comuns ao dia a dia.
Inúmeros projetos de pesquisa têm estudado e desvendado os mecanismos cerebrais por trás de processos mentais cruciais como a geração de emoções e comportamentos, a motivação, a tomada de decisão, a aprendizagem, a negociação e a resolução de problemas.
Neuroliderança é um novo conceito na administração, que reúne os antigos conhecimentos dessa ciência, com o conhecimento aplicado da neurociência – o estudo do cérebro e suas funções. Na prática, é promover sentido à vida. Orientar pessoas a encontrar satisfação pessoal e propósito no trabalho. Tornar ambientes corporativos em ambientes de felicidade e realização.
O sociólogo Zygmunt Bauman em seu livro “A Arte da Vida” cita:
“Cerca de metade dos bens cruciais para a felicidade humana não tem preço de mercado, nem podem ser adquiridos em lojas. […] Além disso, ganhar bastante dinheiro para adquirir esses bens é um ônus pesado sobre o tempo e a energia disponíveis para obter e usufruir bens não comerciais e não negociáveis. Pode facilmente ocorrer, e frequentemente ocorre, de as perdas excederem os ganhos e de a capacidade da renda ampliada para gerar felicidade ser superada pela infelicidade causada pela redução do acesso aos bens que ‘o dinheiro não pode comprar ‘.”
Bauman, em sua obra, destaca as fragilidades do mundo pós-moderno, marcado pela angústia, pela insegurança e pela fragmentação da experiência ética. “Modernidade líquida” é o seu conceito mais conhecido, que dialoga sobre a tendência à simplificação do que é felicidade e do que pode tornar as pessoas felizes, própria da necessidade de criar demandas de consumo da sociedade atual. Fala, por fim, que a motivação pecuniária, por si só, não é capaz de ganhar sustentação no mundo atual.
O economista Amatya Sen em “A Ideia de Justiça” demonstra que embora sejamos todos iguais perante a Lei, temos necessidades, anseios e esperanças distintos. Portanto, os arranjos institucionais ideais não podem negligenciar esta realidade inerente aos seres humanos, àqueles que dão vida às organizações.
Um neurolíder deve ser capaz de identificar os diversos perfis de personalidade em uma equipe e desenvolver talentos individuais, potencializando os resultados do grupo. Incentivar o fortalecimento das características positivas em cada um de seus liderados, gerir diferentes competências, promover o crescimento sustentável da organização e delegar às pessoas certas, às atividades certas.
Para um neurolíder, o engajamento da organização com o seu profissional é a sua maior riqueza e formar um ambiente de felicidade e resultados extraordinários sua grande realização. Seu objeto de estudo e de trabalho. Para tanto, precisa estar conectado com as pessoas de forma verdadeira e amorosa.
Essa tarefa exige, antes de tudo, um profundo conhecimento de si mesmo. A ciência da neuroliderança ensina que um líder de fato concilia a prática do autoconhecimento e do amor, com o desenvolvimento dos que o rodeiam.
Esse tema bastante recente no nosso país vem trazer oxigênio às organizações. É a renovação necessária diante da nova geração de profissionais, que buscam antes de qualquer recompensa financeira, realização e bem-estar pessoal. Neste sentido, o pequeno Butão, país no extremo leste dos Himalaias, prova como esta nova realidade já é palpável, tendo como um dos seus indicadores sociais o FIB – Felicidade Interna Bruta.
No âmbito das organizações, a neuroliderança é o triunfo da ética e da ciência sobre a histórica relação de trabalho baseada apenas nos aspectos que o capitalismo industrial havia alicerçado.
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Excelente tema e com aspectos bem abordados. Muito bom artigo.